Desculpe, moça, por ter me desequilibrado e
esbarrado em você.
Desculpe, moça, por não ter sido veloz no
pedido de desculpas, pois você foi mais rápida ao reclamar que, se eu não me
segurasse, você não me seguraria.
Desculpe, moça, por na minha ingenuidade
(inferno de característica!), eu ter me justificado: não alcanço o balaústre
central desses trens novos.
Desculpe, moça mais alta, por não ter um braço
longo como o seu, e por favor entenda que nem mesmo esticando-o, como você
irônica ou cruelmente "sugeriu", eu alcançaria.
Desculpe, moça, por eu ainda ter lamentado o
incidente e ter pedido calma a vocês, cujos olhos não cruzaram os meus em
momento algum.
Desculpe, moça, por ainda ter pedido para que
começássemos bem o dia, pois "não tá fácil pra ninguém". Não se
perdoa um clichê.
Desculpe, moça, por eu ter chorado, ali na
frente de todos.
Desculpe, moça, não foi por sua causa (são as
eleições aqui e lá, os professores-alunos-pais-gestores em conflito, as chuvas
e falhas no metrô desde ontem-sempre, as incoerências do universo público e
particular...).
Desculpe, moça, por eu ter me afastado e
procurado em que me apoiar.
Desculpe, moça, por me sentir doente com e pelo
mundo.
Desculpe, moça, por talvez não ter compreendido
que você também estava sofrendo.
Ps: obrigada, outra moça, que me ofereceu seu lugar-atenção.
São Paulo, linha azul, 7:05 da manhã, atrasada.
Ps: obrigada, outra moça, que me ofereceu seu lugar-atenção.
São Paulo, linha azul, 7:05 da manhã, atrasada.