quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Às moças altas do metrô

Desculpe, moça, por ter me desequilibrado e esbarrado em você. 
Desculpe, moça, por não ter sido veloz no pedido de desculpas, pois você foi mais rápida ao reclamar que, se eu não me segurasse, você não me seguraria.
Desculpe, moça, por na minha ingenuidade (inferno de característica!), eu ter me justificado: não alcanço o balaústre central desses trens novos.
Desculpe, moça mais alta, por não ter um braço longo como o seu, e por favor entenda que nem mesmo esticando-o, como você irônica ou cruelmente "sugeriu", eu alcançaria.
Desculpe, moça, por eu ainda ter lamentado o incidente e ter pedido calma a vocês, cujos olhos não cruzaram os meus em momento algum.
Desculpe, moça, por ainda ter pedido para que começássemos bem o dia, pois "não tá fácil pra ninguém". Não se perdoa um clichê.
Desculpe, moça, por eu ter chorado, ali na frente de todos.
Desculpe, moça, não foi por sua causa (são as eleições aqui e lá, os professores-alunos-pais-gestores em conflito, as chuvas e falhas no metrô desde ontem-sempre, as incoerências do universo público e particular...).
Desculpe, moça, por eu ter me afastado e procurado em que me apoiar.
Desculpe, moça, por me sentir doente com e pelo mundo.

Desculpe, moça, por talvez não ter compreendido que você também estava sofrendo.

Ps: obrigada, outra moça, que me ofereceu seu lugar-atenção. 

São Paulo, linha azul, 7:05 da manhã, atrasada.