Há muito que escuto a frase “Cuidado com
o que pede, pois você pode ser atendido”. A sensibilidade que desejei para 2013
veio plena, hiperbólica.
As minhas dores e as minhas alegrias me
rasgaram na mesma intensidade. Descobrir que o que me acometia há mais de um
ano não era o fígado ou o estômago, mas a minha vida “apenas” foi um paradoxo:
impossível negar a tristeza pelo ritmo de vida massacrante, detonador de minhas
dores, com a felicidade por não entrar na faca como eram os melhores prognósticos.
Nem sempre consegui lidar com tudo, mas agradeço as inúmeras vezes em que
apenas me permiti sentir.
Devo ter falhado muito, mas sinto que fui
mais sensível ao outro e suas dores e queixas. Perdoem, queridos amigos, as
ausências às vezes mais com um que com outros, não é por gostar mais ou menos;
não é a distância; não são os diferentes interesses (sempre há ao menos um em
comum com dada um dos diversos núcleos que hoje reconheço fazer); não é a idade
(amo dos quase “inte” aos de “enta”); não são as opções políticas, tampouco as
posturas frente às “minorias”, aliás, me acusam de, em sendo veemente na defesa
de minhas ideias, ser igualmente tolerante com os contrários. Outro paradoxo.
Gente, não é nada, é a minha vida “apenas”. Que eu tenha ajudado quem precisou,
se não por minhas mãos e palavras, encontrando quem o fizesse melhor. Nem sempre
consegui lidar com tudo, mas agradeço as inúmeras vezes em que apenas me
permiti sentir.
Quanto ao planeta, até podemos estar mais
sensíveis, todavia, parece-me faltar mais ação, individual e coletiva. Minhas
ervas morreram. Tenho vizinhos que ainda não reciclam o lixo, mesmo com a
coleta seletiva no prédio. Deveria ser o mínimo, não? Fora o desperdício
generalizado. Nem sempre consegui lidar com tudo, mas agradeço as inúmeras
vezes em que apenas me permiti sentir.
A tecnologia, inegável, foi uma aliada e
muitas vezes ponto de partida para o mundo “real”: mesmo com toda a correria e
restrições impostas, acho que nunca foram tão significativos os abraços
curtidos, os cafezinhos e as pizzas compartilhados, as salas de estar acessadas
– e os belos jardins em diferentes versões, literal e conotativamente. Podem não
ter sido muitas, mas todas as vezes em que nos permitimos sentir, juntos, foram
intensas as boas risadas, a troca de palavras de apoio, os choros, os
silêncios.
...
Aos que acompanharam minha jornada “rumo
aos ‘enta’”, agradecida. Foi muito mais que ao menos uma linha escrita por dia:
foram sentimentos e ideias que me permiti dizer, escrever, publicar e outros
tantos que ainda não tomaram forma, mas têm 6 décadas de “enta” para se palavrarem.