sábado, 7 de dezembro de 2013

Ensaio para a vida

Não tenho direito de, autoridade ou competência para fazer crítica teatral. Se me perguntarem sobre luz, figurino, atuação, fico limitada a gosto/não gosto, achei bom/achei ruim. Mas penso que posso falar de histórias. Vividas e inventadas. E de personagens.
Na última terça de novembro, o Teatrando encerrou a temporada do “Na madrugada”, espetáculo teatral – e musical (Ave, Cazuza!) – em cujo elenco encontrei (ex)alunos. Um feliz encontro tardão, não cedinho como de costume. E diferente do costume também foi vê-los, ouvi-los ali, transformados, transfigurados. Essa é a voz dele? Que gesto este dela! Mas voltemos à ficção.
O enredo poderia ser o de muitos filmes, seriados de hoje ou dos anos 80: a esticadinha de um grupo de adolescentes após o baile de formatura. Poderia ser só isso, ou clichê, ou caricato ou bobíssimo até. Mas aquele encontro de jovens, que consomem quase todo o bar da anfitriã, vai se transformando aos poucos, se intensificando madrugada adentro. As palavras, os olhares e os gestos vão nos dando pistas dos dramas individuais e coletivos intrincados.
Como no ritual dos bailes de formatura, vão se apresentando aos poucos cada personagem. Laura, a anfitriã de primeira viagem, tão insegura que chega a se surpreender com a chegada dos amigos que ela mesma convidou. Alice e Caetano, inusitado casal de amigos, ele certinho, boa gente e ela quase guerrilheira, deslocada naquele grupo, mas nem tanto quanto pensa. Karen e Luís Guilherme, o casal que, preconceituosamente, poderia ser renomeado como Patricinha e Mauricinho. Dispensariam, pois, maiores caracterizações, não fosse o despertar da princesa Karen para o mundo real.
E como a noite nunca tem fim, conhecemos ainda um quase trio e uma dama solitária. Ingrid, a amiga fiel, com doçura oposta aos tensos gestos de quem guarda um segredo (ou mais?); Elis, acusada de tudo, vítima do inexorável; Cauê, o (ex)namorado de Elis, perturbado por aquilo que ela não conta...E Paloma, a mais “velha”, sensualmente misteriosa, desejosa da íntima verdade.

Todos querendo ver no escuro do mundo, precisando dizer que amam. Para a noite sem fim da vida breve, só mais uma dose. 

5 comentários:

  1. Uau, Cátia! Adorei suas palavras e reflexões sobre a peça!! Mais uma vez, obrigada por ter ido! Eu sempre admirei muito meus professores, então tê-los presentes em minha peça (algo tão especial e tão importante na minha vida), é muito emocionante! Obrigada pelo prestígio! Grande beijo!!
    Beatriz Belintani

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, querida! Privilégio o meu de vê-la atuando! "Sabe ela? Foi minha aluna!" Adoro dizer isso! Que sua estrela brilhe sempre! bj

      Excluir
  2. Uma pessoa sensível na plateia. Só pela crônica valeu a pena. Obrigado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Parabéns por sua direção, por nos revelar meninos e meninas tão talentosos!

      Excluir