Meu monstro não é sem cabeça,
de uma perna só,
carrega um saco, mora no escuro
ou parece o Boitatá.
Meu monstro não vem da África,
Ásia ou Oceania,
muito menos dos castelos
europeus.
Meu monstro não é um boi, nem
tem a cara preta,
não pega como a Cuca, não mora
embaixo de minha cama.
Meu monstro não me atormenta na
lua cheia ou na
[sexta-feira treze,
muito menos me espreita nos
bosques hollywoodianos.
Meu monstro não está na rua
deserta, na arma do bandido,
no ponto de drogas ou após a
faixa amarela do metrô.
Meu monstro não é a infecção, o
câncer,
a cegueira ou a amputação.
Meu monstro, calma e
solenemente,
sem alarde, embora espere
resposta,
apenas diz:
“Você não vai conseguir”.