¾ Eu devia te
colocar pra fora de casa hoje! Mas eu vou te dar uma chance: quem sabe uma
noite no sofá refresca a sua memória?
¾ Mas eu...
Blam! Bate forte a porta do quarto.
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¾ Eu juro que
não sei como isso aconteceu. Eu não fiz nada. Você é o único amor da minha
vida. Eu jamais te traí, nem te trairia, ainda mais agora, que estamos tão bem:
casa nova, emprego novo...
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[19h30]
¾ Ei, o que é
isso? (desatando-se bruscamente do abraço). Não acredito! Quem é ela? Que cara
de pau! Como você pôde fazer isso com a gente? E nem tentou esconder. Queria
mesmo que eu pegasse? É isso? Nossa história termina assim, nesse descaramento?
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[14h]
¾ Aí, hein,
cara?! Gostei de ver! O amor se espalha no ar! Pra quê vergonha, né, não?!
¾ ???
¾ Só não vai
perder totalmente a compostura, viu? Conselho de amigo: você é novo no emprego,
não exagera na descontração.
¾ Mas, como
assim? Sobre o que você
¾ Sem crise,
cara! Tô julgando não. É só um toque. Valeu?! Fui!
¾ ???
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[09h]
Por
que será que elas estão agindo assim? Essas risadinhas, alguns olhares duros,
questionadores, outros parecem... insinuantes! Não, é loucura minha. Mas, e
eles? Mal os conheço, por que esse olhar tão cúmplice? Droga. E como é que faz
essa planilha mesmo?
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[06h40] [eu]
“Próxima estação Sé. Acesso à
Linha 1 – Azul. Desembarquem pelo lado esquerdo do trem.”
Qualquer comparação que se
faça – lata de sardinha, pau de arara, estufa de granja, carro de boi (sem
lirismo, Rosa!) - é válida, mas insuficiente. Insuportável? E como conseguimos
passar por isso todos os dias? Não conseguimos: estamos submetidos aos
empurrões, cotoveladas, pisões, apertos, calor, capacidade máxima de lotação,
velocidade reduzida, maior tempo de parada. Todos os dias. Às caras feias, aos
xingamentos, às (quase) brigas, à falta de educação. Todos os dias.
Mas hoje foi muito pior.
Praticamente sem tocar os pés no chão e sem alcançar barra de apoio horizontal
ou vertical, quando o mar de gente irrompeu, fui lançada com tal violência que,
por milésimos de segundos, senti-me voando... direto a um colarinho
azul-celeste impecavelmente engomado. Ei,
moço! Ele nem me ouviu.
E lá se foi, sabe Deus para
onde, meu beijo involuntário no dia de estreia do vermelho terroso...