“Hoje
eu acordei, olhei a vida e me espantei. Eu tenho mais de vinte anos, eu tenho
mais de mil perguntas sem resposta”. Se me lembro dessa música é porque tenho
bem mais de vinte anos. Quase quase o dobro. E face aos últimos 189 dias de
“inta”, continuo me espantando com a vida, talvez por acreditar que, quando eu
desencantar, não estarei mais aqui. 2013 tem se afigurado ainda mais
emblemático, simbólico.
Afigurado.
Simbólico. É isso! Nos últimos tempos, tenho lido muito, especialmente as
pessoas: as que escrevem, por seus artigos, poemas, livros e posts
facebuquianos que, ainda dizem, não devem ser levados a sério; as outras, por
suas falas e atos. E eu as leio como figuras de linguagem.
Algumas
são antíteses, para as quais em um dia os manifestantes são vândalos, no outro
são ativistas: os opostos coexistem, em alternância (depende do que é mais
conveniente a elas, talvez?).
Outras
são paradoxos: seu modus operandi é
defender-se atacando, amar destruindo, auxiliar cobrando, respeitar ofendendo,
orar ignorando, exaltar desmerecendo, sorrir invejando, educar agredindo.
As
hipérboles são as que se destemperam e perdem toda a classe e a razão em
intermináveis ou calorosas – absurdas? – discussões pelo facebook. Ou ainda as
que choram copiosamente com a constatação de que não têm – nunca terão! – o
mundo “perfeito” vendido nas propagandas de margarina.
As
silepses ocupam importantes cargos de comando, público e privado: a falta de
concordância é explícita, mas elas tentam nos convencer de que o importante, o
que vale, é o que está implícito.
Há
ainda as metáforas: você nunca entende de imediato o que elas significam, mas é
fisgado – às vezes sem perceber – pela magia contida em suas definições. E
magia, mesmo para os negros, pode ser branca ou negra.
As
gradações estão por aí aos montes. Umas começam na igreja e chegam à Comissão
de Direitos Humanos, transformando impropérios (que não podem ser, por favor,
religiosos, pois Cristo não é isso!) em liberdade de expressão, projeto de
“cura gay” em proteção ao trabalho do psicólogo (oi??). Outras há que começam
numa discussão – desimportante, apregoam – sobre brinquedos e a questão de
gênero na educação infantil para desembocar, “filosoficamente”, na grotesca imagem
das “bonecas de quatro”.
Porém
as mais intrigantes (perigosas?) são as ironias: elas nunca, nunca são o que
parecem ser, são sempre o oposto. Não está nelas o problema, que as melhores
são, inclusive, refinadíssimas, mas em nós que não as percebemos e as acolhemos
ou rechaçamos sem efetivamente tê-las compreendido.
E
para quem acha que estudar figuras de linguagem é meramente identificá-las, um
alerta fundamental de qualquer teoria linguística: de nada adianta classificar
uma figura de linguagem se não se compreenderem os efeitos de sentido que ela
provoca. Leiam-me, nesse ponto, literalmente.