segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Crônica professora

            Em 1992, oficializei meu sim... não ao matrimônio, à maternidade, a um sacerdócio ou a uma missão, mas ao exercício do magistério. Digo “oficializei”, pois bem antes disso, aos 12 anos de idade, já havia tomado a decisão de ser professora, menos pelas brincadeiras infantis de imitação e mais pela necessidade: tive uma péssima professora de português, dessas que amedronta(va)m e humilha(va)m os alunos, a ponto de uma colega – dessas quase mudas de tão quietas, quase árvore de tão imóvel –, acuada pela tenebrosa chamada oral, fazer xixi na calça diante de toda a turma, que assistiu perplexa ao “show” da mestra ante o ocorrido, até que duas bravas crianças arrancaram  a colega sob os gritos loucos de saiam daqui seus xymdjeps e buscaram acolhida na casa da tia Dulce, caseira que conhecia cada uma das crianças daquela escola estadual.

            Da decisão à formação e finalmente ao exercício, foram anos de descobertas, desilusões, conhecimento, dedicação, esforço e recompensas. E do início da atuação até hoje (com alguns momentos de interrupção por ser impossível conciliar os estudos uspianos à distante e querida pré-escola), foram anos de descobertas, desilusões, conhecimento, dedicação, esforço e recompensas... da pré-escola aos terceiranistas do ensino médio, passando pelos aspirantes a cargos públicos e os adultos. Ser professora não é divino e maravilhoso, é um trabalho. É humano, é terreno. É um trabalho como outro qualquer: exige qualificação, dedicação, atualização. Busca-se mais acertar que errar. E quando se erra, aprende-se com o erro.

            E como qualquer outro trabalho, faz parte direta ou indiretamente da vida de qualquer ser humano, exceto daqueles – ainda muitos pelo mundo – que nunca pisaram numa escola. Às vezes é lembrado esporadicamente, como aquela dor horrível e repentina que nos leva à emergência do dentista, em outras é imperceptível de tão cotidiano, como o caminho que fazemos todos os dias, em algumas poucas é constante e pleno, como o amor que atravessa décadas.
            Mas como todo e qualquer trabalho, deve ser exercido em condições dignas, ser bem remunerado e ter seu valor reconhecido. É triste a notícia de que cada vez menos jovens se interessam pelo magistério e os poucos que se formam hoje desistem logo no começo de carreira. Juventude sem esperança? Isso não combina! Não sou professora apenas por amor ao processo de ensino-aprendizagem baseado na construção do conhecimento em conjunto. Não sou professora por amor “apenas”. Neste 15 de outubro de 2012, desejo que meus colegas de profissão, da rede pública ou particular, da pré-escola ao ensino superior, da cidadezinha do interior à grande capital, possam dizer que se sentem realizados profissionalmente. E para os que ainda não podem dizer isso, desejo que nosso amor fortaleça e alimente nossa luta em cada dia letivo (e que descansemos merecidamente nas férias!).

3 comentários:

  1. Lindo, Cá! Parabéns pela realização do projeto de vida e do blog! E obrigada por partilhá-lo!

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  2. Toda escola deveria ter uma Cátia.E ponto.

    (obs: que delícia o seu jeito de escrever!Amei!)

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    1. Ai, Laura, ia ser um verdadeiro inferrrno, não?! rsrs. Sinto-me agraciada por sua sensibilidade! bj

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