terça-feira, 21 de outubro de 2014

Discurso (in)direto

Não costumo divulgar minhas preferências partidárias na política. É apenas um direito meu o de não me manifestar. Isso não lhe dá o direito de me acusar de alienada, embora você possa julgar que eu não tenha preferências. Isso é direito seu. Respeito.
Não costumo estampar camisetas dizendo “não votei em...”, porque se quem ganhou não foi meu candidato ou minha candidata, o que importa é como agirei a partir de então. Humilhar você ou insistir no “eu te disse” não é um princípio meu. Eu não preciso aceitar sua opinião. Eu a respeito.
Não costumo me expressar e dar as costas, porque se falei, quis audiência; se consegui audiência, fui ouvida. Isso não dá o direito à plateia de me agredir, embora ela possa sim se expressar a mim. É um direito dela. Respeito.
Não costumo brigar pela minha candidata ou pelo seu candidato. É direito meu o de escolher (não) panfletar, (não) segredar ou (não) silenciar. Também é um direito seu. Isso não nos dá o direito de nos ofender mutuamente, embora um possa querer tentar convencer o outro a mudar de ideia. Respeitemo-nos.
Não costumo ofender amigos e familiares no Facebook, “desfazer amizades”, desativar a página, ordenar que meu oponente não se manifeste, censurando-o, cerceando-o. Lidar com a diferença é natural para mim, o que não significa que eu não me sinta atacada, nem que meu silêncio seja submissão. É antes vigília. E quando acho necessário falar, falo ou agir, ajo. A minha presença, tal pedra no meio do caminho ou flor no asfalto, sempre foi e é minha arma contra o que me impingem nos rótulos que me dão: mulher, preta, pobre, suja, descabelada, ingênua, professora...

Acredito que as opiniões diferentes são constituintes do sistema democrático. Acredito que o respeito a elas mantém o diálogo, que em sendo diálogo, é civilizado. Não acredito que gritos reais ou virtuais sejam argumentos, mas sei que eles machucam. Defendo que discurso de ódio não é liberdade de expressão.

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