A
criança procurava uma flor para presentear a mãe. Uma não, a flor, com A
Gigante e um F que ela nem aprendera ainda a fazer.
Disseram-lhe para buscar a flor mais bela,
a rosa amarela.
Acenou para as vermelhas, desviou das azuis
e a amarela convidou:
¾
Rosa amarela, flor mais bela, posso levar você pra minha mãe?
¾
Mais bela, eu? Não, querida criança, há outras tão belas quanto eu. Por que não
tenta uma mais nobre, a orquídea?
Brincou com os lírios, mergulhou nas tulipas
e a orquídea reverenciou:
¾
Orquídea, flor mais nobre, posso levar você pra minha mãe?
¾
Mais nobre, eu? Não, querida criança, há outras tão nobres quanto eu. Por que
não tenta uma mais forte, a boca-de-leão?
Pendurou-se na primavera, lutou com os
antúrios e para a boca-de-leão rugiu:
¾
Boca de leão, flor mais forte, posso levar você pra minha mãe?
¾
Mais forte, eu? Não, querida criança, há outras tão fortes quanto eu. Por que
não tenta uma flor mais singela, a flor do campo?
Saltitou as boninas, acariciou as violetas
e para a flor do campo sorriu:
¾
Flor do campo, flor mais singela, posso levar você pra minha mãe?
¾
Mais singela, eu? Não, querida criança, há outras tão singelas quanto eu. Por
que não tenta uma flor mais viçosa, o girassol?
Bebeu no copo-de-leite, dançou com a
gérbera e o girassol circundou:
¾
Girassol, flor mais viçosa, posso levar você pra minha mãe?
¾
Mais viçosa, eu? Não, querida criança, há outras tão viçosas quanto eu. Por que
não tenta uma mais perfumada, o jasmim?
Cheirou o lisianto, encantou-se com a
camélia e com o jasmim se deliciou:
¾
Jasmim, flor mais perfumada, posso levar você pra minha mãe?
¾
Mais perfumada, eu? Não, querida criança, há outras tão perfumadas quanto eu.
Por que não tenta uma mais eterna, a sempre-viva?
Embolou-se com a hortênsia, cantou com a
estrelítzia e com a sempre-viva dengou:
¾
Sempre-viva, flor mais eterna, posso levar você pra minha mãe?
¾
Mais eterna, eu? Não, querida criança, há outras tão eternas quanto eu. E
nenhuma na verdade é. Nem nada é eterno, meu pequeno.
O menino voltou para casa pensando florido.
Pegou o papel mais lindo que tinha e com as cores todas desabrochou ali todas
as flores que encontrou, todas as que imaginou. E dormiu no perfume delas. Quando
a mãe chegou, viu o próprio rosto naquele desenho do filho. E das mãos da mãe
rebentaram botões de uma flor ainda não nascida.
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