Outro dia
desses, a Inveja encontrou o Alheio. Nada diferente do comum: desde pequenina a
Inveja busca o Alheio em todas as suas formas e só fica feliz quando dele se
apropria. Mas nesse dia especialmente, o Alheio estava revoltado:
- Escute aqui, Inveja: estou cansado de
você. Lembra quando eu era só um brinquedinho inocente no berço de seu irmão?
- Claro! – os olhos de Inveja brilharam.
- E quando eu era aquela caixa de lápis de
cor de seu coleguinha de pré-escola?
- Linda! – as sobrancelhas de Inveja
arquearam-se.
- E quando a professora falou que eu era a
melhor nota da turma toda?
- Sim. – o nariz de Inveja entortou-se.
- E quando fui a roupa mais original
daquela festa incrível, de que falaram por mais de um mês?
- É. – sorriu Inveja, de lábios selados.
- E quando era o grande amor de sua melhor
amiga? Ou as flores mais belas com cartão misterioso chegando assim de repente
no meio da roda?
- Verdade... – engasgou-se Inveja.
- E quando eu fui a merecida promoção
daquele funcionário que você admirava, dizendo-se “branca”?
- Sei... – os ombros de Inveja
enrijeceram-se.
- E quando fui a viagem mais divertida de
seus primos?
- Lembro. – o peito de Inveja se comprimiu.
- E quando fui a reforma da casa de sua
vizinha?
- Que reforma! – o ventre de Inveja se
contorceu.
- E quando fui o prêmio revelação daquela
artista maravilhosa?
- Foi... – Inveja roeu uma de suas unhas.
- E quando eu era apenas uma selfie
bobíssima de um novo corte de cabelo de sua amiga ou do prato de comida de seu
tio e tinha um monte de curtidas?
- Eita! - os punhos de Inveja cerraram-se.
- Então...
Mas antes que Alheio, magoado por anos, enfim
concluísse todo o seu raciocínio, Inveja, com os olhos fixos no Alheio, abriu
bem os braços, enlaçou-o, fagocitando-o.
Moral da história: A
Inveja só se alimenta do Alheio se Você (“que não tinha entrado na história”) deixá-lo
de bobeira por aí, repisando suas dores.
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